As razões para um exame de Papanicolaou ou “preventivo”, como é apelidado, apresentar-se anormal podem variar muito.
As causar mais comuns seriam aquelas causadas por infecções virais, especificamente, o Papilomavírus humano (HPV).
Mas, afinal, que bicho é esse?
Vamos falar sobre a doença por HPV, o Papilomavírus humano, que às vezes assusta tanta gente.
Muitas são as mulheres com medo do câncer pelo vírus do sexo, como tenho visto nessas duas décadas trabalhando com colposcopia. Mas saiba que HPV sozinho não faz câncer em ninguém!
O problema está na persistência da infecção pelos subtipos de HPV 16, 18 entre outros HPVs de alto risco oncogênico, por 02 anos ou mais, e associação de:
- co-fatores imunológicos;
- co-fatores infecciosos (como a presença simultânea da infecção por Clamídea tracomatis);
- o fumo;
- má alimentação;
- déficit de vitamina a;
- uso de hormônios em alta dose.
Vamos deixar bem claro que a imensa maioria das pessoas já foi infectada por algum subtipo de HPV, inclusive os de alto risco oncogênico, porém a grande parte destas pessoas infectadas não irão evoluir para doença maligna, nem tampouco lesões pré-cancerosas, denominadas lesões intra-epiteliais de alto grau.
É comprovado o processo de clareamento da infecção pelo HPV. E o que é esse clareamento ou depuração? É uma diminuição importante da multiplicação viral, consequência da nossa própria competência imunológica. De tal modo que ficará abaixo de uma cópia de vírus por célula, significando, testes negativos para HPV.
Mas atenção, se não houver o clareamento (clearence viral), após muitos anos, poderemos nos deparar com outros desfechos. HPV de alto risco junto com seus co-fatores, isto é seus facilitadores, podem produzir lesões intra-epiteliais escamosas em colo uterino (local mais comum), lesões intra-epiteliais vaginais, ou de vulva, ou canal anal.
Tais lesões são silenciosas, não promovem sintomas, mas a via carcinogênica já foi trilhada. Sua progressão poderá ocorrer, porém de forma bastante lenta.
Logo, se tratando de doença assintomática, isto exige atenção e esforços por parte dos médicos e equipes de saúde, a fim de diagnosticá-las e prevenir o aparecimento do câncer propriamente dito. Para isso temos a realização rotineira dos exames de papanicolaou ou “preventivo”. E quando este apresenta alguma alteração o passo seguinte é a colposcopia, aliada a biópsia de eventual lesão encontrada e o estudo desta biópsia (histopatologia), fechando assim o que chamamos de tripé diagnóstico.
No dias de hoje falamos também sobre a prevenção primária das doenças induzidas pelo HPV, que seria a vacinação em massa de nossas meninas e meninos na faixa etária dos 09 aos 14 anos de idade, pelo sistema único de saúde, benefício também estendido gratuitamente para as pessoas que convivem com HIV até os 45 anos de idade.
A população em geral também pode vacinar-se, em âmbito particular, mesmo em outras idades (preferencialmente abaixo dos 45 anos). O HPV, subtipos 6 e 11, produzem outra forma de doença, que seriam as verrugas anogenitais, tecnicamente denominadas de condilomas acuminados. Estas, habitualmente, não seguem a via carcinogênica, mas por outro lado podem ser muito desagradáveis, comprometendo a estética genital, podendo causar prurido, e até mesmo impacto psicológico. Certas vezes o tratamento destas verrugas é demorado e trabalhoso.
Para esta situação, a vacina quadrivalente, presente há muitos anos no Brasil, tem uma boa efetividade no seu uso preventivo. Testes de DNA HPV (não disponÍvel no SUS), também podem ser um meio de prevenção, mas é fundamental o esclarecimento da população em geral que há um contexto muito específico para a interpretação do resultado destes exames. Além disso, a realização em mulheres com menos de 30 anos, não é preconizada, porque revelará muitos resultados positivos que não irão refletir doença no futuro, porque, como já dissemos, a imensa maioria das pessoas farão o clareamento viral, e não irão adoecer.
Estes testes tem seu lugar em determinadas situações e auxiliam o médico em decisões, mas em síntese, a realização do Papanicolaou Seriado é suficiente para um rastreio eficaz do câncer de colo uterino na população.
Quero deixar uma mensagem para você: no Brasil a cobertura de exames de prevenção do câncer de colo uterina na população feminina está aquém dos números preconizados como ótimos pela OMS. Então, sempre que você puder, pergunte para as mulheres do seu círculo de conhecimento se elas estão em dia com seus exames. Porque a realização de um único exame na vida, comprovadamente, diminui em 50% o risco de morte por este câncer.
Dê um presente muito legal à alguém!!
Todas juntas contra o câncer de colo uterino!!